A Catequese: Uma caminhada pela fé em São Salvador de Lordelo

20-01-2020

A catequese é uma ferramenta de ensino na religião cristã. Religião essa que permanece e, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), Portugal caracteriza-se como um país cristão, sendo que a maioria dos portugueses se manifestam como católicos. A catequese em si, tem vindo a lecionar os seus princípios ao longo de todo o país por muitos anos, contribuindo para a religião na medida em que ensina e prepara as novas gerações para o catolicismo, englobando as sociedades atuais.

Procurando investigar sobre o assunto, permaneci em Lordelo, freguesia de Paredes, tentando perceber de que forma os lordelenses encaram esta prática religiosa. Questionei o pároco sobre o assunto, o que o inquietou, querendo esclarecer quais os pontos fortes e fracos da catequese na cidade. Além disso, a igreja da paróquia já tivera sido, outrora, um mosteiro, o qual deu lugar à atual ampla igreja, agora pronta para receber todos os cristãos que a procuram visitar.

Em Lordelo, com base nas entrevistas feitas ao pároco, catequistas, pais e catequizandos do 6º ano da catequese do Vinhal, da freguesia de Lordelo (Paredes), conclui-se que a catequese acontece como tradição de família. A doutrina, pelas palavras do atual padre de Lordelo, sempre teve a sua importância na cidade e, por essa razão, os pais encarregam-se de levar os seus filhos ao batismo pouco tempo depois de nascerem.

Após esse feito, vão-se catequizando as crianças, desde a sua infância, até ao fim da sua adolescência, findando este ciclo de catequese com a celebração do crisma. Os principais contributos da catequese são esses mesmos, partilhar a religião e os seus princípios


Lordelo, cidade religiosamente histórica

A cidade de Lordelo, em Paredes, é também conhecida como São Salvador de Lordelo. De acordo com o livro "Lordelo, Paredes", que detém várias investigações sobre a cidade, Lordelo já foi, outrora, divido em duas freguesias.

Igreja Paroquial de Lordelo, por Diana Ferreira
Igreja Paroquial de Lordelo, por Diana Ferreira

Na margem esquerda do Rio Ferreira era "Lordello" e na margem direita era "Castanheira" e esta freguesia pertencia ao concelho de Refojos, a qual D. Dinis e D. Manuel I deram foral, enquanto que "Lordello" fazia parte do concelho de Aguiar de Sousa.

A freguesia de Lordelo já foi, também, abadia secular dos Bispos do Porto. Antes de existir um mosteiro, existiu também ali um convento, que acabou no tempo de D. José e do Marquês de Pombal.

Segundo a Corographia Portuguesa do Padre António Carvalho Costa, ou seja, o estudo geográfico de uma região, no caso, Lordelo, é referido que o convento, fundando no século XIII, pertencia aos cónegos regrantes de Santo Agostinho, sendo eles os líderes das congregações cristãs locais e aqueles que vivem sob a regra de realização das funções litúrgicas, o lugar conservou, posteriormente, o nome de "Mosteiro".

O Mosteiro, que nasceu no século 20, possui uma arquitetura religiosa, medieval e neoclássica.

Já a Corographia do Padre Carvalho diz "(...) foi mosteiro de cónegos regrantes e ainda os tinha no ano de 1478"; Já no Episcopológio de Novaes, uma espécie de catálogo de bispos de uma igreja, lê-se: "esse mosteiro, de cónegos regulares, de Santo Agostinho, já nos meados do século XVI (1547) não tinha frades".

O nome "Salvador" provém do Novo Testamento e exprime a convicção. Jesus de Nazaré cumpre as esperanças da salvação do Antigo Testamento e, segundo o evangelho, atribui-se o Título de Salvador, não apenas a Deus, mas também a Jesus. Para S. João, Jesus é o Salvador do Mundo inteiro.

Interior da Igreja Paroquial de Lordelo, por Diana Ferreira

Tendo em conta a Monografia de Paredes, "Quando as igrejas catedrais e paroquiais primitivamente sem Título, passaram a ser consagradas a um Padroeiro, muitas foram colocadas sob a invocação do "Salvador".

Atualmente, a igreja paroquial que serve Lordelo, de histórico, contém apenas a Capela-Mor, ladeada à entrada por duas colunas de pedra, cujos capitéis aparecem esculpidas figuras elegantes de animais e plantas, fazendo jus ao estilo românico. A parte "moderna" da igreja, apresenta-se ampla e funcionalmente melhorada, de forma a receber um número superior de fiéis.

Interior da Igreja Paroquial de Lordelo, por Diana Ferreira

A atual igreja, de acordo com a Corographia Portuguesa do Padre António Carvalho Costa, foi restaurada no ano de 1900 através dos donativos dos paroquianos e do abade Sr. Francisco Xavier de Sousa Carneiro.

Catolicismo dos Lordelenses

Em 2011, o Instituto Nacional de Estatística (INE) considerou Portugal um país maioritariamente cristão, uma vez que, segundo as estatísticas, existem 8.989.849 portugueses, entre eles, 7.281.887 pertencem à religião cristã.

Desde sempre que Lordelo se caracteriza como cidade cujos habitantes são, maioritariamente, católicos. O INE confere isso mesmo - com base nos estudos dos censos do mesmo ano, existem 7811 lordelenses, sendo que 7679 se manifestam como católicos.

Interior da Igreja Paroquial de Lordelo, por Diana Ferreira
Interior da Igreja Paroquial de Lordelo, por Diana Ferreira

Em conversa com o atual padre de Lordelo, o Padre Rui Pinheiro, percebemos que os católicos que visitam a igreja são, nomeadamente lordelenses, apesar da igreja ser também visitada por emigrantes e habitantes das localidades mais próximas.

O Padre Rui, como é mais conhecido na cidade, nasceu no ano de 1944 em Refojos, no concelho de Santo Tirso e está em Lordelo há 50 anos. Mesmo antes de ser Padre, servia Lordelo como Diácono auxiliar do Padre Meneses, antigo padre da freguesia de Lordelo.

No dia 12 de dezembro de 1971, Pinheiro foi ordenado Padre por D. António Ferreira Gomes, Bispo das dioceses do Porto e, nesse ano, o Padre Pinheiro deixou Lordelo e partiu para a vida militar em Chaves.

Depois de Chaves, foi pároco em Viana do Castelo e, em fins de 1972, seguiu para Moçambique onde teria de ficar durante 28 meses. Em Moçambique foi capelão militar, tendo como função celebrar missas nas companhias e catequizar os católicos existentes, sendo que, segundo o Padre, eram poucos, uma vez que a religião maioritária era muçulmana.

Os 28 meses que o Prior teria de permanecer em Moçambique não foram cumpridos devido ao 25 de Abril de 1974, que lhe permitiu a volta para Lordelo, desta vez, como Pároco.

Padre Rui Pinheiro, pároco de Lordelo, por Diana Ferreira
Padre Rui Pinheiro, pároco de Lordelo, por Diana Ferreira

Em 2019, o eclesiástico perfaz 48 anos como Pároco de Lordelo e é ele próprio que nos explica a evolução do catolicismo e da catequese ao longo dos anos.

Quais os principais problemas existentes no catolicismo atual?

Em Lordelo, são vários os problemas existentes que se relacionam com a religião, nomeadamente com a presença na Eucaristia.

O padre salienta os principais que afetam, não só os católicos como, principalmente, as crianças que iniciaram a sua caminhada de fé recentemente.


A Catequese

Salão de Catequese do Vinhal, em Lordelo, por Diana Ferreira
Salão de Catequese do Vinhal, em Lordelo, por Diana Ferreira

O sol começa a pôr-se, o relógio marca as horas, são precisamente 16h de um inverno frio e ventoso na cidade de Lordelo, freguesia de Paredes. Encontramo-nos perto do salão do Vinhal, um dos três salões existentes em Lordelo, onde se ensina a catequese.

Salão do Vinhal, em Lordelo, por Diana Ferreira
Salão do Vinhal, em Lordelo, por Diana Ferreira

Maria José Santos convida-nos a entrar. Está frio, apesar das janelas estarem fechadas. A luz que ilumina o espaço é fraca, porém, as quatro catequistas que ali se encontram têm um sorriso no rosto.

"Os meninos ainda não chegaram, ainda é cedo", comenta Maria José com boa disposição.

Enquanto os minutos vão passando, as catequistas Maria José Santos, Fátima Barros, Conceição Costa e Manuela Ribeiro vão folheando as páginas dos seus catecismos, ou como lhe chamam, "O guia". E enquanto isso, já preparam a doutrina (ou catequese), articulando-a com as várias atividades que pretendem propor.

A catequese que ensinam é para os alunos do sexto ano. Fátima Barros comenta "São meninos amorosos, já os ensinamos há quase 3 anos. Este ano, estamos a prepará-los para o mês de maio, vão celebrar a sua Profissão de Fé", profere orgulhosamente.

Passam 20 minutos e alguns catequizandos começam a entrar, sentando-se nas cadeirinhas que os esperam. Não tiram os casacos porque o frio permanece, no entanto, os olhos iluminam-se durante a conversa que mantêm uns com os outros. Não falta muito para que a homília comece.

Todas as semanas, uma das quatro doutrinadoras leciona a catequese. Hoje é a vez de Maria José. Fala-se sobre Deus iluminar o nosso caminho e, todas as crianças que ali se encontram, têm a oportunidade de acender uma vela. Lê-se a bíblia perto da cruz, os olhares atentos não escondem a curiosidade e os dedos frequentemente erguidos no ar, pedem um momento de voz. A voz que irá transmitir o conhecimento adquirido.

Ao longo de toda a catequese, a lição encaminha os catequizandos de acordo com o catecismo e com os conhecimentos que lhes são incutidos pelas instrutoras.

As catequistas aspiram que as crianças encontrem a sua fé e, acima disso, se preocupem com o próximo e se eduquem segundo os deveres de um bom cristão.

Catequese: aos olhos das catequistas

No centro de catequese do vinhal, as catequistas elaboram a catequese de acordo com seu catecismo, o qual contém informações guias para ao elaboração da catequese, no caso, da semana.

É aos olhos de quem ensina que conseguimos entender qual a importância de catequese para os mais pequenos, pergunta à qual Fátima Barros elabora rapidamente resposta, de acordo com a homília que todas lecionam.

O trabalho das catequistas é feito em grupo, entreajudando-se momentos antes da instrução começar, porém, singularmente, de acordo com a catequista e com a semana em que é lecionado um novo tema, a preparação é feita em casa, sendo revista por todas no dia da nova lição religiosa.

Hoje, Maria José Santos é quem leciona a catequese, e procuramos saber de que forma se organizam. Além disso, sendo crianças, é necessário que lhes seja captada a tenção, de acordo com Maria José "Há temas que eles gostam mais uns do que outros", mas para que uniformidade perdure, são elaboradas atividades que os cativem.

Segundo a palavra do pároco, que vai de encontro à palavra das orientadoras, concluímos que o número de catequizandos está, igualmente, a diminuir, assunto que Maria José não deixa passar em vão, opinando sobre o assunto.

Com todas estas questões, fomos de encontro à fonte onde tudo começa, a catequese. Fátima Barros e Maria José, respondem às inquietações sobre o assunto que lecionam, a propagação da palavra de Deus.

Catequese: aos olhos das crianças

As crianças que ali se encontram, inquietam-se com os dedos no ar. Umas à procura de esclarecimentos, outras à solicitação de voz para responder às perguntas das catequistas.

Todos estão atentos, contribuindo para o ambiente calmo e propício ao ensino de novas lições. Além disso, colaboram com as atividades propostas. Os olhares são atentos, a mente escuta as palavras proferidas por Maria José Santos e a luz que ilumina o caminho dos cristãos é a lição dada hoje.

As ideologias do catolicismo são atribuídas e reveladas no painel onde Maria José crava os pioneses, de forma a que todos possam dar a sua opinião sobre os desígnios de Deus na vida de cada um.

Ao conversarmos com as crianças presentes, vários quiseram dar a sua opinião sobre a religião que praticam, o catolicismo, e sobre os seus pensares relativamente ao seu estatuto como cristão e aos deveres que lhes são atribuídos.

Catequese: aos olhos dos pais

Aos olhos dos pais, a religião sempre foi uma tradição nas suas famílias, sendo educados a seguir a religião cristã, além de frequentarem as idas à eucaristia todos os domingos.

Igreja Paroquial de Lordelo, por Diana Ferreira
Igreja Paroquial de Lordelo, por Diana Ferreira

Paula Moreira tem 52 anos, é escriturária e atual catequista. É também mãe de Maria Leonor, uma das crianças presentes na catequese do sexto ano, possuindo várias razões pelas quais mantém a filha na catequese.

"As razões pelas quais a minha filha está na catequese, começam pelo seu batismo. Como somos pais cristãos, acreditamos em Deus e queremos transmitir, também, essa fé à nossa filha.", comenta.

O batismo é a primeira eucaristia onde os pais apresentam os seus filhos e, a partir desse dia, a vida cristã é parte das crianças.

Paula Moreira relata a forma como assumem a educação cristã da filha, "Assumimos educá-la na fé, daí ela ir à catequese, onde vai aprender a conhecer melhor Deus, que a vai ajudar na sua vida, no seu bem estar próprio e para com os outros.", explica.

Paula Moreira acredita ainda que a catequese pode auxiliar a filha em diferentes aspetos através da sua caminhada pela fé.

"Ao longo da catequese, vai recebendo os sacramentos que a tornam mais forte na fé, ajudando-a a viver essa mesma fé e a transmiti-la aos outros."

Carlos Ferreira tem 49 anos, é pai de Marta Ferreira e acredita que a catequese é um princípio, referindo:

"A catequese é um princípio que me foi incutido desde pequeno e com o qual me identifiquei. Desta forma, achei por bem passar esse testemunho às minhas filhas."

A catequese em Lordelo é naturalmente transmitida de pais para filhos como tradição religiosa, sendo que, o catolicismo é a religião que domina entre os lordelenses.

Raquel Frião tem 41 anos, é educadora de infância e já foi catequista. É mãe de José e conta as razões que a levaram a catequizar o filho.

"Foram várias as razões que nos levaram a catequizar o nosso filho, uma vez que foi a decisão de casal. A primeira é que vimos de uma família católica praticante (...), a segunda é que fui catequista e fiz catequese durante quatro anos e sei que esta é a base para a construção de uma pessoa melhor, mais humana e mais humilde."

Conclui-se precisamente que os mais novos são incutidos pelos pais para que ingressem na catequese, com o intuito de os catequizar e, segundo os pais, construírem-se como pessoas melhores.

Ao atendermos que esta prática tem vindo a ser desvalorizada, tendo em vista que o número de catequizandos tem vindo a diminuir (segundo as catequistas e o próprio pároco), quisemos saber qual a opinião dos pais acerca do progresso da catequese enquanto ensino e se deveria, efetivamente, continuar.

A Catequese, por Diana Ferreira
A Catequese, por Diana Ferreira

A opinião de Paula Moreira, atual catequista, refere que "Vivemos numa sociedade em que as crianças e jovens optam em primeiro lugar pela tecnologia e outros ídolos que não Deus ou Jesus.", além disso, a catequista salienta ainda que, atualmente, desligam-se do mais importante, a família e os amigos, para dar importância aos bens materiais.

"Os ídolos que os fazem estar à margem do saber, o que é bem e o que é mal. Para eles é tudo normal (...) o comércio, o poder e a diversão envolve-os, abstraindo-se do que é essencial como a família e a amizade", acrescenta Paula.

A atual catequista, conta que a catequese é onde as crianças podem aprender e a interiorizar comportamentos, que deveriam seguir como sendo os mais corretos, mencionando "(...) infelizmente, nas famílias de hoje, eles (crianças) não recebem dos pais o exemplo da vivência da fé e mesmo a boa educação para se tornarem bons Homens e Mulheres para o futuro."

Carlos Ferreira, salienta que "a prática da catequese ensina as crianças desde cedo que podemos viver em paz e harmonia." realçando o que as catequistas pretendem transmitir.

Ferreira menciona ainda "A fé em Deus dá a esperança e força necessária para que nunca desistam, sendo que, a catequese será sempre uma mais valia para os catequizandos", finaliza.

Por outro lado, Raquel Frião comenta que "Eu acho muito importante, mas tenho algumas dúvidas se a catequese perdurará, uma vez que, cada vez mais há catequistas com idades avançadas e poucos jovens a abraçar esta causa."

Com estas afirmações que vão de encontro às ideias anteriormente traçadas pelo Padre Rui Pinheiro, podemos concluir que em parte, o abandono da catequese poderá será uma opção, no entanto, Raquel prevê uma outra opção.

"A igreja tem vindo a mudar e a mobilizar os jovens, esperemos que continue e que os jovens possam mover montanhas e tornar um o mundo um lugar melhor", explica.

Desde cedo que se começa esta prática e, como todos os ensinamentos, a catequese é lecionada e posta em prática, por exemplo, com atividades envolventes (ir ao lar de idosos, partilhar o lanche entre todos, doar bens materiais aos mais necessitados), tudo isto para que a fé cresça dentro de cada cristão, assim como os princípios que esta prática.

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