À distância de um toque

Quem lê livros, vê filmes. O livro "A Distância entre nós" foi escrito por Rachel Lippincott e está disponível nas várias livrarias ao nível nacional e internacional, contando com adaptação cinematográfica. O filme roubou o coração e as lágrimas de muitos espectadores.
"A Distância entre Nós" é uma história sobre a luta e resiliência dos pacientes portadores da doença "Fibrose Quística" (FQ).
A doença está associada a problemas pulmonares nutricionais, onde os pulmões produzem secreções anómalas, denominadas igualmente por "muco", que podem afetar a própria função respiratória, o aparelho digestivo, as glândulas do suor e até o aparelho genitorinário. A Fibrose Quística é real e afeta, segundo a Associação Nacional de Fibrose Quística, cerca de 75 mil pessoas ao nível mundial.
Tendo em conta que a FQ é originária de uma mutação de um dos genes transmitidos de pais para filhos e cuja cura, até ao momento, ainda não foi descoberta. Rachel Lippincott decidiu dedicar-se ao livro "A Distância entre Nós" que conta com a história de dois adolescentes portadores FQ, a história dos pais dos mesmos e mesmo dos médicos que os acompanham. O livro contou com adaptação cinematográfica no passado ano, 2019.
Stella, personagem interpretada no filme por Haley Lu Richardson, é desde logo, uma adolescente organizada, preocupada e controladora, não só de si própria, obrigando-se a tomar toda a medicação necessária para o tratamento da FQ, como também dos vários momentos de atividade física que complementam a medicação.
Por outro lado, Will Newman, personagem interpretado por Cole Sprouse, é composto por todas as características opostas às de Stella, sendo que o próprio é portador não só de FQ, como também de "B Cepacia", um complemento à doença que a torna ainda mais difícil de lidar por ser resistente à maioria dos antibióticos.

Para Stella, estar no hospital significava ter que
sobreviver, não só por si, mas principalmente pelos pais. Na sua consciência,
após a sua irmã completamente saudável ter falecido, Stella é o único "ponto de
luz" na vida dos pais, não só por se apoiarem na própria após a morte da irmã
de Stella, como também ajudar no processo de divórcio.
"Meu Deus, não admira que a Stella seja tão obsessiva quanto a manter-se viva! Aqueles dois perderam a filha e depois perderam-se um ao outro. Se ela morresse, o mais provável era que perdessem a sanidade mental."
Desde então, Stella sobrevive, entre os tratamentos que tem de realizar no hospital, as amigas que a visitam e o melhor amigo que se encontra na mesma situação que Stella, o Poe.

Will tem-se reintegrado nos mais variados hospitais a
nível internacional, tudo para servir de cobaia aos novos medicamentos que têm
sido realizados para combater/colmatar a FQ em conjunto com a B Cepacia. Isto
coloca a Stella num lugar possível para a receção de novos pulmões, enquanto
que, para o Will, isso será impossível enquanto a B Cepacia fizer parte do seu
sistema imunológico.
Stella começa a interessar-se por Will, o único e mais importante problema está, na distância que devem manter em todos os momentos em que encontram, ou seja, um metro e oitenta de distanciamento entre ambos.
"O que eu tenho é B cepacia, o que torna esta conversa inútil. - A situação não vai mudar tão cedo."
Consciente de que a sua salvação será difícil de alcançar, Will começa a viver mais e a aproveitar-se mais dos momentos que considera como "o que levamos daqui" antes do fim. Com essa ideia em mente, Will rejeita os tratamentos, ignorando-os, assim como a medicação.
Stella, mesmo sem conhecer Will, apercebe-se da situação, o que a incomoda, por ter uma atitude controladora e organizada que a deixa ansiosa. A jovem sente a necessidade de lhe organizar a medicação e de fazer com que Will volte aos tratamentos e que tente, pelo menos, ter uma chance de sobreviver. E é aí que a aproximação entre ambos começa.

Ao mesmo tempo que Stella vai organizando a medicação,
programando os tratamentos e estar sempre atenta ao cumprimento por parte de
Will, o próprio vai-se interessando pela jovem e entendo melhor a vida da
própria através do canal de youtube que Stella administra.
Apesar de estarem a par da impossibilidade de aproximação, e possível relação entre os dois, por parte da enfermeira Barb, que os guia através dos tratamentos existentes para a doença; ambos decidem arriscar encontros e momentos entre os dois, tendo em conta todos os métodos de segurança impostos entre pacientes de FQ, no hospital.
"- Não tossir para cima de outras pessoas com FQ. Já percebi."
Não tarde muito para que ambos se apaixonem e o problema comece a aumentar, assim como a necessidade de se tocarem, a ação que lhes é proibida ao longo de toda a história e, posteriormente, toda a vida.

Tentar interagir sem qualquer tipo de interação
física, isto é, desde os abraços, os beijos, a aproximação... tudo isto lhes é
roubado no momento em que ambos tomam conhecimento que são portadores do mesmo
tipo de doença.
É o que o livro "A Distância entre Nós" explica, ou seja, a forma como este tipo de doença é vivida.
Retrata não só os portadores de FQ, como também quem convive com os próprios, como é o caso da família, dos amigos e dos próprios pacientes entre si. A própria Stella, a certo momento do filme, desafia os perigos que a própria doença possui, em prol de poder estar, pelo menos uma vez, mais perto de Will - roubando 30 cm à distância mínima de segurança permitida.
"Por isso, depois de tudo o que a FQ me roubou... nos roubou... eu também lhe vou roubar uma coisa. (...) - Vou roubar-lhe trezentos milímetros. Todinhos. São trinta centímetros de espaço, distância, comprimento."
Apesar das limitações impostas aos jovens, ambos têm formas de se comunicar quando lhes é impossível estarem fisicamente perto um do outro, isto é, através de videochamada, troca de bilhetes ou, até mesmo, através do youtube sob um canal que Stella cria para outros portadores de FQ.

O canal de youtube torna-se substancialmente importante ao longo da história, uma vez que é através do qual a própria fala sobre os vários tratamentos, sobre si mesma e inclui, após ter conhecimento da B Cepacia, o Will Newman.
"Correm-me lágrimas pelo rosto ao sentir que ele se afasta, muito mais do que o metro e meio que combinámos. E que esteve sempre entre nós."
O livro, publicado no passado ano 2019 contou igualmente com adaptação cinematográfica ainda no mesmo ano. Ambos, segundo a autora, Rachel Lippincot, foram dedicados aos "doentes, famílias, pessoal médico e entes queridos que travam, permanentemente e com grande coragem, uma dura batalha contra a fibrose quística.", concretiza, desde logo, no início do livro e presta homenagem até ao final.