Neil Gaiman, escritor de livros infantis para jovens adultos

02-12-2019

"A estranha vida de Nobody Owens", por Neil GaimanNeil Gaiman, um escritor de renome. Um homem dedicado aos contos infantojuvenis. Cada conto, um lado macabro e sombrio, é assim que o autor trabalha nos seus livros.

O autor que nos conquista através do protagonista é também capaz de, no momento seguinte, nos prender para uma possível morte - da maneira mais feroz possível.

O desespero de devorar o próximo capítulo à procura de uma explicação para o que aconteceu no anterior... Isto é Neil Gaiman.

"Fary tales are more than true: not because they tell us that dragons exist, but because thay tell us that dragons can be beaten." ¹
No livro "A Estranha Vida de Nobody Owens", o autor relata isso mesmo. A imensa vontade que um assassino tem de matar uma família indefesa. Aquela que, para ele, tinha assuntos por resolver.

E assim começa esta história. Certa noite, o assassino entra pela casa de uma família e mata, de forma audaz, três pessoas imprescindíveis à vida de um pequeno bebé: os pais e a irmã.

O menino, ao ouvir os barulhos pela casa e já capaz de andar, salta do seu berço e, sem que o assassino se aperceba, caminha silencioso e desajeitadamente para o exterior da casa, em direção ao cemitério.

Durante o tempo que o pequeno toma para se afastar de casa, o assassino procura-o, não o encontrando em lugar algum e perseguindo o bebé através do seu faro apurado. Note-se que este assassino não é um humano, ninguém sabe quem ele é.Já no cemitério, o pequeno bebé é acolhido por um casal de fantasmas, apelidados por Sr. e Sr.ª Owens, um casal que em vida, nunca tivera filhos.

"- A mãe do rapazinho entregou-mo - afirmou a Sra. Owens, em tom de quem pensa que está tudo dito."

"Minha boa mulher..." (diz o Sr. Owens)

"Não sou a sua boa mulher - declarou a Sra. Owens, pondo-se de pé. - Para dizer a verdade, nem sequer sei por que estou aqui, a falar com um bando de broncos inúteis, quando este rapazito não tardará a acordar cheio de fome. E onde irei encontrar comida para ele neste cemitério, isso é o que eu queria saber."

A procura incessante do assassino de nome Jack, chama a atenção a Silas, um dos guardiões do cemitério, que o trava a tempo de encontrar o bebé, mentindo-lhe do seu paradeiro.

Neste instante, Jack abandona o cemitério. O bebé não só é acolhido pelos Owens, como também passa a ser conhecido no cemitério como "o rapaz vivo", e todos o procuram proteger, principalmente Silas, que seu autonomeia seu tutor por nem ser fantasma, nem ser homem.

A história, escrita por Gaiman acompanha o crescimento do pequeno Nobody e conta ao leitor de todas as aventuras do menino e do facto de ter sido "o escolhido" para ter o dom do cemitério. É uma obra, na teórica, elaborada para os mais pequenos, porém os acontecimentos que decorrem ao longo da história podem ser, em ocasiões, considerados exagerados, no sentido em que a escrita é detalhada, profunda e em certos momentos, macabra.

Do género infantojuvenil, esta obra é capaz de misturar a realidade com a fantasia e manter o leitor sempre a par dos dois mundos: o dos vivos e o dos mortos.

"- Tens amigos aqui? - inquiriu."

"- Não estás a perceber - retorquiu Bod. - Vocês têm de parar com isto. Parem de se comportar como se as outras pessoas não tivessem importância. Parem de magoar os outros."

A estranha vida de Nobody Owens é capaz de abordar a morte de uma forma subtil e controversa, refletindo sobre a importância da vida e da morte. Percebemos isso a certa altura, numa conversa entre o menino e o seu tutor, que entendemos precisamente a linha finíssima que separa a vida da morte. Silas alerta o menino para não se aventurar de forma drástica pelo facto de poder, eventualmente, morrer demasiado novo; no entanto, Nobody responde que não se importaria, pelo facto de todas as pessoas com que ele se preocupa, já estarem mortas.

"- E depois? É só morrer. Quer dizer, todos os meus melhores amigos estão mortos.

- Pois estão. - Silas hesitou. - Estão sim. E a maior parte deles já rompeu com o mundo. Tu não. Tu estás vivo, Bod. Isso significa que tens potencial infinito. Podes fazer qualquer coisa, construir qualquer coisa, sonhar qualquer coisa. Se mudares o mundo, o mundo mudará. Potencial. Quando morreres, isso desaparece."

É nesta dicotomia que o autor trabalha (a vida e a morte), a efemeridade do momento, da vida e do quão preciosa ela pode ser. Após a conversa entre os dois, Silas contrasta a opinião do menino, fazendo-o perceber que os vivos podem mudar o mundo, ou pelo menos tentar deixar uma marca de que ali estiveram e tentaram melhorar determinadas situações; enquanto que os mortos, já tiveram a sua chance e ali permaneciam, para o seu eterno descanso.

A leitura do livro é fluida, raramente complexa nos seus detalhes. Gaiman não é um autor dedicado a livros para crianças com pensamento leve, mas sim, um autor que foca sobre os maiores dilemas do ser humano, transformando-os em personagens, procurando contar uma história que vá explicando, neste caso, ao pequeno Nobody (às crianças) a dicotomia principal do livro.

Em suma, "A estranha vida de Nobody Owens" é indicado pelo plano nacional de leitura português, por ser precisamente um livro que transmite uma história um tanto complexa que prende o leitor desde a primeira à última página com a ânsia de acompanhar o protagonista desde bebé, até ao momento em que enfrenta os maiores desafios da vida.

"Eu disse / Ela partiu / Mas eu estou vivo, estou vivo, / Venho agora ao cemitério / Embalar-te com uma canção"
Gaiman é um autor destacado, não só por este livro, mas como por outros igualmente reconhecidos pela sua boa escrita, perspicácia e detalhe. Alguns exemplos são: "Coraline", adaptado posteriormente para filme, assim como "American Gods" posteriormente adaptado para uma série televisiva transmitida pela emissora Starz.
"American Gods" e "Coraline", por Neil Gaiman
"American Gods" e "Coraline", por Neil Gaiman

¹ "Contos de fadas são mais do que a verdade: não porque eles nos contam que os dragões existem, mas porque nos contam que os dragões podem ser derrotados."

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