Porto Editora - O mundo pertence àqueles que leem

O
ensino é a ferramenta essencial para mover o mundo. Para que possamos
ser ensinados, precisamos dos nossos professores e dos livros. A Porto
Editora é uma das editoras que se encarrega disso mesmo, da elaboração e
distribuição dos livros escolares. Para compreendermos melhor os
processos, Paulo Rebelo Gonçalves, diretor de comunicação da Porto
Editora, explica-nos o funcionamento da mesma, de acordo com os livros
com que trabalham.
À primeira vista, parece-nos mais uma das ruas do Porto, mas é com pormenor que as bandeiras azuis e brancas se distinguem na Rua da Restauração. Ao mesmo tempo que caminhamos em direção aos livros, avistamos as portas envidraçadas que nos dão visão para frases selecionadas pelos membros desta equipa e comunidade literária.

Quem se dispõe a responder a todas as inquietações de um leitor sobre um editorial, é Paulo Rebelo Gonçalves, o principal gerenciador do departamento de comunicação da Porto Editora. A entrevista tem lugar no conforto de um sofá, cercado por estantes repletas de livros. O cheiro de páginas novas é percetível no momento em que nos sentamos e as questões começam a ser formuladas. São elas que nos trarão respostas às interrogações de verdadeiro interesse: a elaboração de um exemplar.

O livro como objeto
No momento em que é tratado por doutor, logo se dispõe a que o tratem por Paulo, colocando as formalidades de parte. Assim sendo, Paulo sorri e começa por explicar o trabalho que uma equipa editorial desempenha para a realização de um original."A partir do momento em que o escritor nos entrega o original, têm uma equipa editorial na área, por exemplo, em literatura, com editores que são responsáveis"
E é precisamente nesse momento que o ofício começa. Os originais
são distribuídos por áreas de género, o que dá lugar à revisão
linguística do manuscrito. O editor em questão, analisa cada obra,
anotando várias sugestões opinativas a discutir com o autor, essenciais
para que o projeto possa ser lançado como documento digital, devidamente
paginado.
Paralelamente a esta fase, o autor deve trabalhar com as equipas internas, nomeadamente com a de design, onde vai definir o objeto - livro, relativamente à sua capa e sobrecapa. O encontro com o design vai delinear o perfil do autor. O público, enquanto leitor, já reconhece de facto, as formas de escrita de um autor.
Paulo reconhece a função de designer enquanto produtor da ilustração, aquela que vai entrar em contacto com o leitor e captar-lhe-á a atenção. Ao mesmo tempo, as equipas de marketing e comunicação, já planeiam o trabalho promocional do livro - quando e como vai ser o lançamento, assim como os materiais necessários para a promoção em pontos de venda.
"Isto a partir de certa altura também envolve a equipa comercial, pois estes vão ter que apresentar o livro, ainda antes de estar pronto, aos pontos de venda, sendo que informam as livrarias, quer sejam independentes, quer sejam redes livreiras.

Este é, segundo o diretor de comunicação, o processo genérico de
edição de um livro. E é neste momento que nos suscita a pergunta: "E o
autor? Pode acompanhar todo este processo de edição da obra?" e é com
alegria que Paulo nos responde "Claro. O autor acompanha todo este processo."
Já no caso dos designers, estes podem
(ou não), entrar em contacto com o autor, para que o este possa, se
assim se justificar, entrar em contacto com o editor, o próprio designer e o ilustrador. Porém, segundo Paulo, "Existe uma relação de confiança entre autor e editor".
Ao folhear os livros presentes no local, entendemos que um produto
assim, pode e deve levar tempo para a execução. Quer por parte de
edição, quer por parte da gráfica. Todo o leitor conhece o processo que o
livro atravessa, desde o momento em que o encomenda a partir da loja online,
ou até mesmo da editora, até sua casa. Mas saberá quanto tempo demora
um livro a ser editado e preparado para o mercado? Nem todos...
Para ter uma noção, "Este
processo pode demorar 3 a 4 meses, pode demorar mais ou menos,
dependendo da urgência de colocar o livro nas livrarias", explica Paulo.
E nestas condições, perguntamos se já existem planos para 2020, ao que o
diretor confirma "Já sabemos o que publicar em 2020, 2021 e 2022. É um
trabalho que exige cuidado e rigor, atenção naquilo que é a preocupação e
as características na obra do autor.".
Além disso, podemos compreender, através das palavras do
representante da Porto Editora, que um livro é um processo editorial e
obedece àquilo que autor deseja, sendo que, quando o livro fica pronto
para enviar para a gráfica, fica igualmente pronto para ser
disponibilizado em formato ebook.
O livro digital - ebook
É precisamente neste momento da conversa que começamos a refletir sobre os ebooks na
sociedade, e a possível concorrência que estes possam fazer aos livros.
E entre várias trocas de ideias, são as estatísticas interpretadas por
Gonçalves que aniquilam as dúvidas existentes:
"Existe uma venda mais significativa do livro físico, enquanto que no ebook, a venda é particularmente residual (menos de 1%) - a venda de ebooks em Portugal... estamos a falar de 1 para 100 ou de 1 para 200."
O impacto é sentido e sem demoras, a pergunta mais inocente surge "Porquê " num mundo dominado pela tecnologia, como é que o papel consegue ganhar este combate?
"Há uma razão fundamental para isto: a falta de hábitos de leitura, independentemente do formato. No nosso país há um conjunto de circunstâncias - o ebook existe como diapositivo móvel e isso tem o seu custo. E mesmo nos países que o ebook cresceu, a sua vinda tem vindo a descrescer, representado apenas 1/3 das vendas em papel."

Acrescenta-se ainda que os diapositivos apelam à atenção voltada
para o entretenimento, o total oposto da exigência da leitura:
concertação e abstenção. Enquanto que os hard readers
(leitores massivamente frequentes) não se importam de ler o livro seja
em que formato for, a restante comunidade literária tem preferências e
costumes que devem ser tidos em conta. Além disso, enquanto que um livro
é taxado com 6% de IVA, o ebook é taxado com 23%, por ser considerado software, prejudicando o desconto feito pelo autor.
Importa salientar que os investimentos feitos para os ebook são superiores aos dos livros. As tecnologias da maquinaria necessária na gráfica para a produção dos livros têm evoluído significativamente, enquanto que o software para os ebooks tem de ser pensado para que a evolução aconteça - implica criatividade, investimento de software e hardware, atualização de servidores e uma equipa que acompanhe todos estes processos de forma ir de encontro à idealização de conforto dos clientes.
Processos de um livro escolar
Um livro escolar, segundo Paulo Gonçalves, tem uma complexidade
diferente, sendo que, este tipo de livro absorve, no mínimo, dois
autores. O tempo de processamento de um livro escolar é superior ao de
um livro, por exemplo, de ficção. Gonçalves refere:
"Só para ter uma noção, para nós conseguirmos ter um livro escolar pronto, exige-nos pelo menos um ano de trabalho [...] Quando a equipa de professores nos apresenta o original, há um trabalho para trás que não é reconhecido."
Existem, por isso, algumas diferenças entre um livro escolar
preparado para os alunos e um livro escolar preparado para os
professores.
"A diferença existe na informação que o livro sustenta; os livros são desenvolvidos paralelamente. [...] A versão do professor tem orientações pedagógicas, sugestões e em alguns casos, soluções para os desafios propostos."
O livro escolar é o principal influenciador dos estudantes, sendo
que, deve ser trabalhado de forma a que exista um acompanhamento escolar
com os professores, assim como em casa, com os pais. São, por isso,
trabalhados pelos docentes de acordo com as orientações dadas pelo
ministério, existindo todo um cuidado científico e pedagógico que obriga
a que tudo aquilo que é feito, seja visto e revisto por toda a equipa.

Neste caso, o livro escolar não assume só um editor, mas sim, vários - o editor, coordenador, editorial, revisores científicos internos e externos - para que, normalmente seja feito um livro escolar, sejam necessárias 10 a 12 pessoas.
O processo editorial de um livro suscita a troca de ideias. Entre reuniões de editores e autores, o original vai sendo trabalhado e testado nas escolas - com os devidos desafios propostos.
Muitos livros escolares não captam a atenção dos estudantes, e Gonçalves explica:
"Apesar de estarem de acordo com o programa, tem muito daquilo que é o pedagógico dos autores e, portanto, eles (os professores) tentam introduzir inovações dinâmicas, tendo sempre a preocupação do objetivo do livro."
O principal objetivo de um livro escolar é servir as aprendizagens
dos alunos e, ao mesmo tempo, o trabalho dos professores. Não cumprindo
estes dois objetivos, segundo Paulo: "O trabalho está mal feito."
Edições literária Porto Editora: Como é feita a seleção de livros
Segundo Paulo Gonçalves "Tudo passa por critérios editoriais" e é aí que tudo começa. A Porto Editora tem um conjunto de chancelas: são elas a Ideias de Ler, Sextante Editora, Bertrand Editora, Círculo de Leitores, Assírio & Alvim, Livros do Brasil, Albatroz, 5 sentidos e a própria Porto Editora - cada uma com as suas características específicas.
A chancela da Porto Editora em si, tem uma linha editorial muito
abrangente, sendo que são escolhidos livros de autores com um prestígio -
está claro que existem uns mais comerciais do que outros.
A comercialização de livros tem que ver essencialmente com o tipo de escrita praticada, sendo mais acessível, tendencialmente será a mais vendida. Enquanto que, a literatura mais clássica, como é o caso de José Saramago, Valter Hugo Mãe, Eça de Queirós... estes terão um público mais específico e, por isso, não se inserem na literatura comercial, como é o caso de, por exemplo, José Rodrigues dos Santos.

Paulo Gonçalves dá o exemplo, inclusive, de chancelas dedicadas a certo tipo de livros:
"A Sextante Editora tem um catálogo que é mesmo literário e com autores portugueses, mas olha muito para outros países como autores ibero-americanos ou autores franceses, ou seja, é uma literatura mais dos Países de Leste." e acrescenta "Depois, temos a Assírio e Alvim que é uma chancela dedicada exclusivamente à poesia, diferenciando-se, por exemplo, da Livros do Brasil, que é uma chancela de clássicos da literatura portuguesa e estrangeira."
Com isto, Paulo Gonçalves dá a entender que cada chancela
pertencente à Porto Editora, dedica-se essencialmente a uma linha
editorial, trabalhando não só com autores portugueses, como com autores
estrangeiros. Desta forma, a literatura diversifica-se, constatando:
"Porque cada estilo tem o seu público e o público que nós procuramos chegar é um público que tem critérios e que saber o que quer ler e o que gosta de ler. Nós procurámos ir ao encontro desses gostos e dessas preferências".
Além disso, existe uma máxima interna na editora que Paulo Gonçalves dá a conhecer:
"Publicar o que dá, para podermos continuar a publicar o que não dá. E este dar ou não dar tem que ver com as vendas, se são livros de leitura mais acessível, cuja perspetiva de venda é significativamente maior do que os livros de literatura propriamente ditos.", esclarece.

E nesta dicotomia, o representante enuncia a chancela "Coolbooks",
a chancela que publica livros de autores estreantes. Sendo assim, são
vendidos autores comerciais de boa qualidade e com um publico
significativo, para depois conseguirem continuar a investir em novos
autores.
Literacia 3Di
Ainda na linha das novidades, a Porto Editora recentemente iniciou
um novo projeto com o objetivo de contribuir para a promoção dos
índices de literacia dos alunos em Portugal. Nomeadamente do 5º ao 8º
ano. Segundo Paulo Gonçalves, existem vários tipos de literacia neste
campo, os quais enuncia:
"Existe a literacia de leitura, literacia de matemática, literacia de ciências e literacia de inglês."
O projeto já existe há muitos anos e é organizado pela Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Economico (OCDE) que, regulamente,
elabora o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA).
O PISA é uma rede mundial de avaliação do desempenho escolar com
vista a melhorar as políticas e resultados educacionais. O programa é
realizado em vários países, incluindo Portugal, portanto é um estudo
oficial que avalia os alunos de determinado país.
Paulo Gonçalves afirma que "Portugal, felizmente nos últimos anos, tem melhorado de forma significativa, mas ainda está um bocadinho distante dos países de topo. [...] O nosso objetivo é dar um contributo para que se promovam estes índices e fazê-lo num formato de concurso, envolvendo a quinta edição que agora arrancou e que envolve 160 mil alunos - em Portugal 8 mil."

Comenta ainda que é uma particularidade significativa e é a maior
ação de responsabilidade social na área da educação que é feita a nível
nacional, pela Porto Editora.
É uma iniciativa que tem um custo elevado e que é inteiramente suportado por nós. É uma forma de dar um retorno à sociedade daquilo que faz com o seu trabalho, ajudando professores e alunos a explorarem o percurso na área da literacia. Até porque as escolas estão, e bem, na parte da avaliação dos conhecimentos curriculares que se ocupam com o percurso educativo dos alunos.
Agora, o que nós procuramos acrescentar é a possibilidade das escolas poderem também avaliar as competências dos alunos, ou melhor, aferir através deste concurso e dos desafios propostos aos alunos, a colocação dos discentes à prova, ao avaliarem as suas competências e, depois, fornecer às escolas os dados que contribuíram para os resultados finais."
É através de novos desafios e propostas que a Porto Editora trabalha, e com a Literacia 3Di, é possível entender o estado da arte dos discentes a nível nacional. Trabalhar em conjunto com os professores na exploração de novos caminhos que podem ajudar de várias formas os alunos a melhorar os seus resultados, é uma das várias opções que a editora apresenta. Fornecer às escolas este tipo de desafios e análise de dados, é outra das formas de contribuir para a educação escolar.
Desta forma, a Porto Editora consegue oferecer aos discentes de Portugal, formas diversificadas de trabalhar as aprendizagens, melhorando-as. Os vários desafios propostos procuram nomeadamente fornecer novas ferramentas às escolas para melhorar o desempenho e formação dos alunos.
Atualmente, pensar no futuro é uma necessidade acrescida, uma vez que, com a rapidez processual que a sociedade do quotidiano impõe, os alunos, ao terminarem a escolaridade obrigatória, devem sentir-se devidamente preparados no encaminhamento para a faculdade ou para o mercado de trabalho.

Paulo Gonçalves realça:
"Estamos a conseguir fornecer às escolas novas ferramentas para melhorar o desempenho e a formação dos alunos, preparando-os ainda melhor para aquilo que serão os desafios do futuro de uma sociedade que se desenvolve de forma cada vez mais acelerada, mais competitiva e que vai exigir das novas gerações, capacidades e competências que importa, precisamente nestas idades, promover e consolidar."
Por esta razão, a educação e preparação da geração do futuro é fundamental, uma vez que a competitividade, a exigência e o rigor são os fatores mais importantes e necessários aos indivíduos que "amanhã" terão de estar aptos para o que os espera.