“Só ali é que a minha vida faz sentido, nasci para aquele momento!” afirma João Delgado Lourenço

Ser ator não é só subir ao palco e interpretar uma cena, para João Delgado Lourenço, ser ator é "estar «nos sapatos» do outro", ou seja, viver o personagem para o qual trabalha. Atualmente, aos 37 anos, continua tão apaixonado pelo teatro como no momento em que admirou, pela primeira vez, uma profissão como a de Herman José.
Ao conversarmos com João Lourenço tiramos várias impressões da sua boa disposição e vontade de comunicar, pois ser ator é mais do que interpretar um papel, é também, saber captar a atenção do seu público para a personagem que está, naquele momento, a viver.

Nos dias que correm, Delgado Lourenço vive em Gaia e é ator, porém, até chegar a este patamar, a vida não lhe facilitou nas opções, confessando "A minha vida deu uma grande volta. Licenciei-me em Engenharia Civil, tirei o mestrado e trabalhei em gabinetes de projeto, até mudar completamente de vida e estudar no ESMAE.", explicitando que no ano de maiores decisões, se orientou com a psicóloga onde lhe propôs a ideia de ser basquetebolista, ou então, como o Herman José e acrescenta "Acho que foi a minha primeira manifestação de amor pelo mundo da interpretação."
Assim como ser escritor, professor, psicólogo ou exercer qualquer outra profissão, o ator tem as suas próprias preferência no que toca às "melhores partes" da sua profissão, ao que Lourenço explica "(...) apesar de ser clichê, é mesmo estar «nos sapatos» de outro. É poder viver outras vidas - e se eu estivesse nesta situação. Tentar perceber como aquela personagem pensa, sente, é viver aquela (personagem) mas sendo sempre eu.", constata.

É no alinhar das perguntas que o amor pelo teatro e pelo mundo artístico é, de facto, avivado em Delgado, sendo que o próprio considera interessante nunca existir uma transformação completa do ator para o personagem, uma vez que é sempre o próprio que ali está, modificando-se-lhe apenas as circunstâncias e a história de vida.
Além disso, o ator não dispensa "A melhor parte? Para mim é o contacto com o público, as apresentações é algo inexplicável, mas que dá sentido a tudo. É sempre aí que o teatro vence os outros meios.", dando a entender o porquê da sua paixão pela área onde exerce a profissão.
Não é logo à partida que todos aqueles que são instruídos nesta área se sentem totalmente à vontade perante o público a quem terão de se entregar. João Lourenço comenta essa mesma premissa relativamente a si e à sua experiência enquanto ator "Sinto-me muito bem, acho que é como voltar a criança e quando estás com a família e toda a gente está reunida para te ouvir, é algo semelhante.", além da sensação de estar em casa, o ator não esquece que "É uma sensação incrível, talvez ainda mais valiosa hoje em dia, numa era em que toda a gente está agarrada aos telemóveis e dividida em várias tarefas simultâneas, teres um grupo de pessoas a ver-te e a ouvir-te é um tesouro.", termina.

Apesar de lidar bem com o público e consigo próprio, o ator afirma que fazer teatro é uma grande responsabilidade e o nervosismo é um dos aspetos que surge mesmo antes de entrar em palco, mas logo revela "(...) só ali é que a minha vida faz sentido, nasci para aquele momento!".
No mundo do teatro, subir ao palco debaixo das luzes é sempre o desafio que todos esperam e alcançam, e são esses momentos que marcam a vida de um ator. No caso de Lourenço, foi no momento que se estreou no Teatro Nacional de São João (TNSJ) "Era um espectador assíduo de todo o teatro que se fazia no Porto e de repente estava a trabalhar com os atores e encenadores que mais admirava e, naquele palco que tantas vezes vi da cadeira do espectador, foi muito especial!", conta.

Tal como recorda o momento de maior emoção, sugerimos a Lourenço que recordasse o personagem cuja dificuldade lhe pareceu maior, sendo ela, para grande espanto, um engenheiro. O ator não minora o ocorrido e explica como se sucedeu "Era um texto contemporâneo escrito por uma dramaturga mexicana. Acho que o problema principal não foi a personagem, mas a abordagem do encenador. (...) Talvez seja aquela máxima de quanto mais perto de nós, mais difícil; ou então reviver algo que já tinha deixado para trás.", explica.

João Delgado Lourenço é ator desde 2012, tendo participado em peças de teatro, filmes e até mesmo em programas e telenovelas na RTP e SIC. A sua carreira atravessou o Sitcom (comédia de situação) "Agora a Sério", de Eduardo Grandim no ano de 2015, na RTP. Participou igualmente no elenco da telenovela "Coração de Ouro", na SIC e ainda no passado ano (2019), no programa de entretenimento da SIC "Esta Mensagem é Para Ti".
Em teatro, nomeadamente no Teatro Nacional de São João (TNSJ) participou no ano de 2016 na peça "Os Últimos Dias da Humanidade", de Nuno Carinhas e Nuno Cardoso; em 2018 fez parte da peça "Uma Noite no Futuro", encenação de Nuno Carinhas e ainda em 2019 colaborou na peça "Das Tripas, Coração", com encenação de Nuno M Cardoso e Nuno Cardoso. Já no teatro Aveirense, colaborou na peça "À Espera de Beckett", com encenação de Jorge Lourenço.
A vida de um ator não é fácil como parece aos olhares de todos, seja público, seja telespectador. Apesar do teatro ser a única opção que Lourenço desenha para si, afirma que "(...) é muito difícil lidar com a precariedade e a incerteza do trabalho de actor. Há momentos sem trabalho que são duros de lidar. Todos os dias tens de estar ativo e procurar desenvolver os teus próprios projetos. É necessária uma grande resiliência.", confirma.

O ator, no presente ano, irá estrear-se no cinema com o seu primeiro filme, realizado por Edgar Pêra, intitulado de "The Nothingness Club", adiantando que já participou igualmente em curtas metragens. Futuramente, o ator procura somente que a vida lhe traga trabalho, esperando continuar no mundo do teatro e ansiando um espetáculo só seu. Procura igualmente apostar no mundo da televisão e cinema, tendo-o como objetivo.
Apesar de tudo e com tudo o que a vida lhe ofereceu, além do que lhe reserva, João Delgado Lourenço objetiva realmente alcançar um só marco, segundo o próprio "(...) é ser feliz, e parece-me que o caminho para atingir essa felicidade é fazer o que se gosta.", pronuncia e acrescenta ainda "Espero ter a sorte de continuar no mundo da interpretação durante muitos anos.", finaliza.