Vitor Martins: um autor de livros LGBTQ+ mais mencionado do momento

A escrita que ainda faz cócegas a muitos e o jovem que incomodou o presidente do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella. Vitor Martins destacou-se entre os vários autores que abordam o assunto LGBTQ+ e que foram censurados na passada Bienal (2019) brasileira de livros. O escritor, que já desenvolveu vários livros que contemplam esta temática, foi alvo de censura. Um dos seus livros chama-se "Quinze Dias" e procura expor pontos de vista alternativos aos seus leitores. Hoje, procuramos analisar este tipo de escrita e a sua temática.
![[Martins, V. (2017) Quinze Dias, Brasil: GloboAlt]](https://d4c20fcf4e.cbaul-cdnwnd.com/466b2dd5ddb25ca0e5e9c7e52564ebdf/200000015-6a1c96a1cc/Quinze-Dias.jpg?ph=d4c20fcf4e)
Quantas e quantas vezes falamos sobre o bullying? Milhares. A prática do preconceito, do abuso e da ameaça, do uso da força, das agressões físicas e verbais que ocorrem frequentemente, de forma habitual.
Os comportamentos utilizados com vista a intimidar, em caso algum, podem ser justificáveis. Vitor Martins escreve, segundo o seu ponto de vista, sobre este tipo de situações quotidianas. Escreve mais precisamente sobre Flipe.
"O olhar que você recebe quando pede uma porção pequena quer dizer "imenso desse jeito e tentando comer pouco?". O olhar que você recebe quando pede uma porção grande quer dizer "imenso desse jeito e ainda assim não para de comer?". Ou seja, se você é gordo, você nunca acerta."
Flipe é um adolescente que sofre de bullying, por ser considerado "gordo", algo que o incomoda abruptamente, uma vez que o personagem é pressionado constantemente na escola. Flipe tem uma baixa autoestima e frequenta sessões de terapia, o seu lugar favorito é o quarto, onde se isola num mundo só seu. Gosta de ler e de assistir a séries e filmes, porém, como é deduzível, o personagem não é capaz de criar novas amizades.
"Não sou bom em nada! Talvez seja por isso que eu assista a tanto tutorial inútil na internet. Acho que estou, inconscientemente, procurando alguma coisa que eu faça bem, mas na loteria dos talentos eu não marquei nenhum ponto."
A história vai centrar-se na consequência de uma viagem durante as férias. Os pais de Caio, o vizinho e amigo de infância de Flipe, vão viajar e, por essa razão, Caio é convidado a hospedar-se em casa de Flipe, o qual reage de forma negativa.Durante quinze dias, Caio permanece em casa de Flipe, o qual se vê obrigado a adaptar-se à partilha de espaço com o amigo, no entanto, uma vez que Flipe tem dificuldades em socializar, o ambiente criado na casa é estranho.
Apesar da mãe de Flipe saber lidar bem com a situação, o filho não sabe lidar da mesma forma, forçando-se a socializar com o amigo de infância.Entre sessões de terapia, tentativas de criar contacto e lembranças de infância dos dois, ambos percebem que a relação que criaram não é somente de amizade e muita coisa está para mudar.
Além de toda uma narrativa criada pelo autor para dar a entender ao leitor os desafios de um adolescente, ele complementa a história com situações específicas vivênciadas por uma vítima de bullying, de forma a causar impacto no estreante de "Quinze Dias".
Ao longo da obra, Martins fala abertamente sobre vários assuntos considerados tabu, desde a homossexualidade, o bullying e as vítimas que cria e o preconceito em vários âmbitos... No desenvolver desta obra, o autor vai diagnosticando o que cada personagem "sofre", mostrando ao leitor que não é um problema sermos diferentes, pelo contrário, é isso que nos define enquanto pessoa e temos de ter orgulho nisso.
"- Mas, olha, isso é coisa de mãe. Eu aposto que sua mãe também adora falar de você para os outros. Todas são assim! - eu digo, tentando fazer com que ele se sinta melhor.
- Não sei. Às vezes eu sinto que ela tem vergonha de mim.
- Por que ela teria vergonha de você? - eu pergunto genuinamente indignado.
- Porque eu sou gay - Caio diz (...)"
Quinze Dias é uma obra pensado para qualquer pessoa e idade, sendo que os assuntos que ali são abordados, devem ser reconhecidos por todos sem que exista uma tolerância dos mesmos. E é assim que Vitor vai despertando o interesse, através de personagens que vivenciam realidades do nosso quotidiano.
"Eu vejo pessoas contando histórias sobre como isso foi importante para elas, mas eu não consigo ver como isso seria bom para mim. Me assumir pra minha família seria a pior decisão de todos os tempos."
O autor vai dando vários exemplos, como é caso do Flipe, que sofre de bullying; o Caio, que tem receio de contar aos pais sobre ser homossexual; a Rebeca (amiga de Caio) que é homossexual e igualmente considerada "gorda" e ainda Melissa, namorada de Rebeca e demasiado "magra". Todos aparentam ter vários problemas com os próprios e é Vitor Martins que nos vai demonstrando que os problemas que muitas das vezes pensamos que temos, não são bem problemas, e sim, formas de ser, identidades - e não há problema algum nisso.
"Acho que eu sempre me mantive tão ocupado tentando não ficar mal, que eu acabei esquecendo de tentar ficar bem."
Em suma, é possível entendermos que tudo o que "Quinze Dias" pretende é fazer com que o leitor se permita. Permitir-se sentir, ser ele próprio, viver a vida à sua própria maneira, ser feliz e nunca se importar com a opinião do outro. Tudo o que este autor procura é mostrar ao leitor e possível vivenciado deste tipo de situações que ser exatamente o que é, não é um problema, é uma bênção. É a sua identidade. É a forma mais simples de amar e de ser amado. Por isso, aceite-se.
"Aqui fora, debaixo da lua enorme, não tem como apagar a luz. Não tem como fechar a porta e cobrir as janelas. Aqui fora ele pode me ver como eu sou. E eu não consigo acreditar no que estou fazendo, mas, sem pensar duas vezes, tiro a camiseta e pulo na piscina."
O autor, Vitor Martins, partilha outro tipo de temáticas, relacionadas com LGBTQ+ noutros livros que escreveu e que procura divulgar como é o caso de "Um Milhão de Finais Felizes" ou "Todo mundo tem uma primeira vez".
Devemos levar em consideração que todo aquele que ler este tipo de livro, deve ter uma mente aberta; por isso, a importância da divulgação é tremenda, tendo em vista a abertura de novas mentes para a sociedade onde vivemos.